Será talvez a agenda interna de Emmanuel Macron que irá determinar se o novo presidente francês é ou não capaz de atingir os objetivos que uma enorme expectativa depositou nos seus braços. Para já, o seu estado de graça é total: em apenas dez meses, conseguiu que um partido que na altura não existia fosse capaz de o levar à presidência e de engendrar uma assembleia previsivelmente maioritária.
Uma coisa com laivos de messianismo (se fosse em Portugal chamar-se-ia sebastianismo), que parece caro aos franceses: era essa aura que envolvia Dominique Strauss-Kahn antes de ele se perder debaixo de saias não autorizadas e em parte também François Hollande antes de a sua inépcia se declarar prevalecente.
Para António Costa Pinto, a agenda interna passa desde logo por “disciplinar o partido”, sob pena de não o ter na mão: a novidade é propícia ao aparecimento de agendas pessoais (vidé o caso de Manuel Valls) que podem fazer resvalar todo o edifício, ainda com o cimento a secar. Depois, há a necessidade da implementação de reformas estruturais – uma delas, a do mercado de trabalho, será com certeza a mais difícil e a mais dolorosa para os franceses, “que continuam a contar com sindicatos e outros grupos de interesses muito poderosos”. Numa palavra, “a França tem que restaurar a competitividade da sua economia”.
Em poucos meses se verá se Macron é ou não herdeiro da irredutibilidade que os gauleses gostam de propagandear como estando inscrita no seu ADN.