Todos menos um. O presidente italiano Sergio Mattarella aprovou todos os ministros sugeridos por Giuseppe Conte, advogado (sem experiência política), que tinha na semana passada indigitado para formar um governo de coligação do Movimento 5 Estrelas e da Liga, partido de extrema-direita, e só rejeitou um. Foi, no entanto, suficiente, para deixar por terra a solução governativa e prolongar o impasse político vivido em Itália desde as eleições de 3 de março e cujo fim poderá passar por uma nova ida às urnas.
Mattarella rejeitou a nomeação de Paolo Savona, um economista que é contra a União Europeia e descreve o euro como ‘jaula alemã’, para ministro da Economia. Os lideres europeus e os investidores tinham demonstrado nervosismo sobre a possibilidade do novo governo italiano entrar em conflito com a União Europeia, especialmente numa altura em que se negoceia o Brexit. Alguns analistas já falavam da possibilidade de Conte levar a um Italexit, mesmo que a considerassem pouco provável.
“O Presidente da República desempenha um papel de garantia que não pode ser de imposição. Aceitei todas as propostas, exceto o ministro da Economia”, referiu Mattarella aos jornalistas, após a reunião de domingo com Conte, citado pelo Corriere della Sera.
Salientou que “não pode apoiar a proposta de um ministro que é um defensor da saída do euro – a incerteza sobre nossa posição em relação à moeda única tem alarmado os investidores e investidores italianos e estrangeiros que investiram em nossos títulos do governo e em nossas empresas”.
A situação política em Itália tem preocupado os líderes europeus e os investidores. Na sexta-feira, a taxa da dívida soberana italiana a 10 anos subiu para 2,461%, o nível mais elevado desde outubro de 2014 e o diferencial (spread) face à equivalente alemã tocou em 200 pontos base, máximos de quase um ano. A pressão sobre a dívida italiana contagiou também as equivalentes de Portugal, Espanha e Grécia. A Bolsa de Milão também tem sido castigada, com um tombo de 6,39% este mês
“O aumento do spread reduz os recursos do Estado, atenção deve ser dada ao perigo do aumento do interesse por hipotecas e empréstimos a empresas. É meu dever estar atento à proteção das poupanças dos italianos, assim a soberania italiana é reafirmada concretamente “, salientou o presidente italiano. “A adesão ao euro é uma escolha fundamental, se quisermos discuti-lo, devemos fazê-lo em profundidade”.
Questionado sobre o próximo passo, Mattarrella respondeu: “Fui informado dos pedidos de algumas forças políticas para irem fechar eleições. É uma decisão que me reservo depois de avaliar o que vai acontecer no Parlamento “.
Segundo a Reuters, que cita uma fonte da presidência, Mattarella convidou Carlo Cottarelli, um antigo diretor sénior do Fundo Monetário Internacional, para uma reunião esta segunda-feira e na qual poderá convidar o economista de 68 anos para liderar um ‘governo técnico’ até às eleições.
Após a reunião de domingo, Conte disse que tinha devolvido o mandato para formar “um governo de mudança” e assegurou, citado pela Bloomberg, que “fez tudo possível para tentar cumprir essa tarefa”.