O itinerário de Angela Merkel em Portugal começa esta quarta-feira com uma visita ao novo Centro de Investigação e Desenvolvimento da empresa Bosch, em Braga, e prossegue para o Instituto de Investigação e Inovação em Saúde, I3s no Porto e um debate sobre o projeto europeu com estudantes de doutoramento da Universidade do Porto.
Em termos políticos, no entanto, o pico da agenda ocorre na quinta-feira, com uma reunião com o Presidente da República, seguida de um encontro com o primeiro ministro. Segundo a agenda oficial, nesse encontro os dois chefes de governo, além de “reforçar as relações políticas e económicas bilaterais, deverão prosseguir o trabalho estreito que vêm desenvolvendo em temas centrais para o futuro da Europa, em particular o roteiro para completar a União Económica e Monetária, a gestão das migrações e o futuro Quadro Financeiro Plurianual”.
No primeiro tema da agenda, o contexto deverá ser positivo. “Sobre o ponto de vista das relações bilaterais entre a Alemanha e Portugal, tudo corre no fundamental pelo melhor”, referiu António Costa Pinto, analista político e investigador do Instituto das Ciências Sociais. “De facto a visita de Angela Merkel a Portugal realiza-se numa altura em que a chanceler e as instituições da União Europeia só podem estar contentes com Portugal”.
O politólogo realça, no entanto, que “isso também quer dizer fundamentalmente que os fatores de crise numa economia europeia só podem vir evidentemente de outros países, neste caso de Itália e eventualmente até de Espanha, caso exista uma crise governamental”.
O impasse político em Itália teve novos episódios nos últimos dias, com o presidente Sergio Mattarella a rejeitar a nomeação de um ministro da Economia eurocético, deitando por terra a hipótese de um governo de coligação do Movimento 5 Estrelas e a Liga. Mattarella nomeou um governo tecnocrata até à convocação de novas eleições.
“Itália sempre constituiu um laboratório político europeu e antecipou muitos dos fenómenos políticos, nomeadamente no que toca ao desenvolvimento de partidos políticos etc. O que está agora em causa é que, pela primeira vez, nós temos em Itália partidos declaradamente eurocéticos e a atual crise italiana e o veto do presidente italiano em relação ao ministro da Economia representa exatamente isso, a ameaça de por em causa o fundamental, justamente as instituições europeias”, explicou Costa Pinto.
Acrescentou que isso já aconteceu “em pequenos países, na Áustria, na Polónia, na Hungria, mas evidentemente o peso da economia italiana é bastante grande e por isso tem um impacto mais significativo”.
Os mercados financeiros mostraram nervosismo sobre o impasse esta terça-feira, com os investidores a castigarem a dívida pública italiana no mercado secundário, as ações da bolsa de Milão e em particular os títulos da banca. A turbulência contagiou as praças bolsistas europeias e ainda as dividas soberanas da periferia da zona euro, incluindo a portuguesa.
“A questão fundamental aqui é que num espaço unificado, mas com falta de elementos no que toca a unificação fiscal, no que toca a unificação monetária, evidentemente que qualquer crise tem efeitos imediatos no setor da periferia da Europa e Portugal é uma das economias que sofre imediatamente”, frisou Costa Pinto.
“Continuamos vulneráveis e vamos continuar vulneráveis, não existem revoluções. Mesmo que os indicadores sejam bons em relação a Portugal, a dívida ainda é elevada e portanto os mercados podem desconfiar imediatamente”, concluiu.