Com eleições em 2017, prevê-se uma campanha eleitoral onde a questão dos refugiados – que ultimamente já não dominava as notícias – será novamente tema de destaque, associado ao terrorismo. E onde questões de segurança interna terão uma relevância acrescida que dominará os debates eleitorais.
Os últimos acontecimentos poderão influenciar a política externa alemã?
Sim, a fragilização da posição da chanceler na política interna tenderá a repercutir-se na política externa alemã. Merkel, apesar de ser já a única líder a quem se atribui capacidade para relançar o projeto europeu, cuja dinâmica com a crise do euro, o Brexit, a crise dos refugiados, o referendo em Itália está posta em causa, tem cada vez menos aliados. Nas relações com a Rússia, depara-se com um presidente Putin empenhado em envolver-se na política europeia de forma a minar o projeto europeu. Será cada vez mais difícil convencer os parceiros europeus a renovarem as sanções económicas contra a Rússia e manter uma posição forte contra Moscovo. Putin, por seu turno, claramente irá tentar influenciar o resultado das eleições alemãs, o que contribuirá para o aumento de um período de campanha atribulado. Merkel terá também menos força para garantir o cumprimento do acordo sobre os refugiados com a Turquia.
Há o risco de uma viragem na política de “boas-vindas” aos refugiados da Presidente alemã?
Seria um erro se tal acontecesse, porque nem Merkel nem nenhum outro político sério podem tornar-se reféns da política populista e xenófoba da AfD. Depois do atentado em Munique em Julho deste ano, a AfD aproveitou-se da situação e contudo, a política de migração do governo não foi penalizada pelo eleitorado. Também desta vez, a culpabilização pessoal de Ângela Merkel pelas vítimas mortais do atentado insere-se na estratégia de agitação populista e de provocação ao establishment que a AfD irá reforçar durante toda a campanha e com a qual conseguirá garantir a atenção dos media.
Mas pode aumentar a polarização da sociedade alemã?
A Alemanha encontra-se num equilíbrio muito frágil – para todos os partidos mainstream, não apenas para Merkel. A SPD poderá ganhar com esta posição mais crítica do eleitorado face a Merkel, mas sendo o parceiro da CDU/CSU na Grande Coligação terá que demarcar-se de uma política com a qual até agora concordou. As incógnitas e incertezas no período eleitoral serão muitas. Para Merkel será a sua mais dura campanha eleitoral. Numa sociedade muito polarizada, o debate centrar-se-á sobre questões de responsabilidade política e a identidade cultural mas também sobre o reforço de medidas para o aumento da segurança interna. A elevada probabilidade de a AfD passar a integrar o Bundestag a partir de Setembro de 2017 representa um desafio à sociedade alemã e aos partidos políticos em concreto. O sistema partidário alemão irá fragmentar-se e a estabilidade política dependerá de como os partidos convencionais se unirem para responder à ameaça populista. n A.A.