Maria limitou-se a sorrir e a acenar com a cabeça de forma afirmativa. Depois de uma violenta discussão ele propôs que eles dessem uma segunda oportunidade ao casamento, pois o seu orgulho machista não lhe permitia conceber a ideia de ser abandonado pela mulher, ainda que ele também a tivesse traído. Quando ela se mostrou intransigente, dizendo que iria sair de casa e que o melhor para eles era divorciarem-se, ele perdeu as estribeiras e agrediu-a. Ela acabou por ser socorrida pelos vizinhos e ele acabou numa esquadra da polícia, tendo o caso ido parar ao tribunal. A juíza que julgou o caso decretou que ele não podia aproximar-se da casa onde ela passara a viver, nem do seu local de trabalho, para evitar novas agressões.
Joaquim continuou a controlar a vida dela pelas faturas onde ela colocava o número de contribuinte, tendo percebido que os gastos com os motéis tinham terminado. Provavelmente ela encontrava-se com o seu namorado na sua casa ou na dele. No entanto, começou a perceber que, dois dias por semana, ela almoçava no mesmo restaurante e, pelo descritivo da fatura, era percetível que não almoçava sozinha. Não conseguindo conter a curiosidade ele decidiu ir verificar quem era a sua companhia para o almoço.
Quando chegou ao restaurante verificou que ela almoçava com um homem e que pela forma como ela segurava a mão dele e como ela o acariciava, só podia tratar-se do seu novo namorado. A cena que presenciou, através da vitrina do restaurante, deixou-o louco de ciúme e de raiva, tendo esperado, à porta do restaurante, que eles saíssem para satisfazer o seu desejo de vingança. Joaquim apanhou-os de surpresa e agrediu os dois violentamente, deixando-os em estado crítico.
Esta é uma história fictícia, mas pode muito bem vir a ser verdadeira se o estado não acautelou devidamente o acesso à informação que os contribuintes, de forma voluntária e confiável, colocam à disposição da autoridade tributária.
A autoridade tributária, com a estratégia utilizada para o combate à evasão fiscal, está a criar um Big Brother, disso ninguém tem dúvidas. A dúvida é se este (o Big Brother) está de olhos abertos ou se os mesmos foram devidamente vendados.
Perante esta dúvida os contribuintes têm não só o direito, mas também o dever, de escrutinar a forma como o Estado usa esta e outras informações que obtém sobre os cidadãos! Para além do potencial uso indevido pelo estado, devem ser também questionado os níveis de segurança das bases de dados onde constam essas informações, pois a sua violação por terceiros pode ser igualmente perigosa para a saúde e o bem estar de todos e cada um dos cidadãos.
É tempo de sermos responsáveis, mas é sobretudo tempo de exigirmos responsabilidade!
Manuel Mota
Economista