Paul Romer começou uma cruzada no Banco Mundial contra o Bankspeak, um fruto do ‘bureaucrats gone wild’ dos dias de hoje. Até agora a única fatalidade foi ele próprio. Diretor do Development Economics Group, a unidade de Investigação do Banco, perderá a gestão da unidade e passará a 1 de julho a ser apenas o chief economist desta instituição de Bretton Woods, substituído pela nossa conhecida Kristalina Giorgieva.
Dizer que poderia cortar um milhão no orçamento do Banco não o tornou simpático na casa, mas oficialmente foi substituído por querer impor maior clareza e rigor nos seus escritos, como, por exemplo, dizer que não aprovaria relatórios em que a palavra ‘and’ representasse mais de 2,6% das palavras (foi, aliás, o que aconteceu nas primeiras décadas do Banco). O objetivo é simples: tornar os textos daquela instituição escorreitos de ler e portadores de mensagens claras. Aparentemente, Romer obteve resultados: a versão de trabalho do Global Economic Prospects tem 35% menos palavras do que o do ano passado, sendo também – de acordo com o staff – mais fácil de ler; mas o ganho não está consolidado.
A gradual implantação do Bankspeak no Banco Mundial foi estudada no “Bankspeak: The Language of World Bank Reports” de Moretti e Pestre, publicado na New Left Review de março de 2015. Em relação à usada nos primeiros trinta anos, os últimos vinte representam “quase uma nova língua, quer na semântica, quer na gramática”. Os textos tornaram-se “mais codificados, repletos de autorreferências e afastados da linguagem comum” – por outras palavras, opacos e cheios de palavreado pretensamente técnico, com pouco ou nenhum significado. Veja-se uma pérola: “there is greater emphasis on quality, responsiveness, and partnerships; on knowledge-sharing and client orientation; and on poverty reduction”. Só não entende quem não quer! Não será estranho que o brettonwoodsproject.org tenha criado o prémio “bankspeak of the year”!
Infelizmente, Pierre Siklos mostrou que, com a recente crise, o bankspeak atacou a generalidade dos bancos centrais, devido às medidas “não convencionais” que tomaram e à crítica que se seguiu. Petra Geraats, de Cambridge, defende que “esta perceção de ambiguidade pode ser desejável”, associando “clareza quanto ao objetivo inflação com ambiguidade no objetivo output e nos supply shocks.” Parece bankspeak do bankspeak… Só espero que Romer a oiça! Resta-nos, a bem da clareza, desejar que o bankspeak se torne numa espécie de latim moderno: uma língua de referência, uma língua erudita, mas acima de tudo uma língua morta.