O aprofundamento da integração económica e política da Zona Euro está conhecer um novo impulso com a entrada em funções de Emmanuel Macron. A hipótese de criação de um ministro das Finanças para a região da moeda única, uma ideia antiga mas que o novo presidente francês tem vindo a defender, foi pela primeira vez admitida pela chanceler alemã, Angela Merkel. E já há pelo menos um nome em cima da mesa: o francês Pierre Moscovici, comissário europeu dos assuntos económicos.
“Pode-se pensar num ministro das Finanças conjunto se as condições de enquadramento forem as corretas”, disse Merkel esta semana, num encontro da Federação das Indústrias Alemãs, quando questionada sobre a proposta do presidente francês.
A chanceler mostrou ainda abertura para um orçamento da Zona Euro, outra ideia defendida por Macron, “desde que seja claro que isso irá realmente fortalecer a estruturas [da moeda única] e fazer coisas significativas”. Para Merkel, “não devemos falar sobre o que não funcionará, mas devemos pensar sobre o que faz sentido”.
As declarações da alemã são vistas pelos analistas internacionais como um avanço relevante. Henry Newman, director do instituto Open Europe, escreveu na Spectator: “Se a França e a Alemanha derem luz verde a uma grande mudança institucional na Zona Euro, será um desenvolvimento muito significativo para a UE”, no sentido de “criação de uma estrutura comum de tipo estatal”.
Quais seriam as vantagens de um ministro comum? Para Henry Newman, “criar uma arquitetura partilhada de um governo ‘económico’ é provavelmente a única maneira de garantir o futuro da Zona Euro”. Claro que há depois os riscos. Um super-ministro numa Europa dividida entre norte e sul, ainda a curar feridas de uma crise de dívidas soberanas, é o caminho certo? “Os eleitores em toda a Europa certamente se perguntarão se podem apoiar estas mudanças constitucionais”, questiona Newman.
Moscovici apoia ideia
O comissário europeu dos assuntos económicos, o francês Pierre Moscovici, também é favorável à criação de uma figura como um ministro das Finanças. Ontem em Madrid, defendeu uma forma simples de fazê-lo: o comissário com o pelouro da economia asseguraria em simultâneo as funções de presidente do Eurogrupo.
“Sou favorável a um ministro das Finanças da Zona Euro, não um ministro que seja superior ao ministro nacional, mas alguém que possa controlar de forma mais eficaz a Zona Euro, que tenha ao mesmo tempo a função de presidente do Eurogrupo e de comissário dos Assuntos Económicos e Financeiros”, declarou, num almoço com empresários em Madrid.
“Gostava que o meu sucessor fosse o primeiro-ministro das Finanças da Zona Euro”, afirmou. “Não sou candidato a nada. A minha proposta não é uma proposta pessoal, é uma proposta estrutural”. O debate está ainda numa fase bastante embrionária, mas há já nomes em cima da mesa: o próprio Moscovici. A pesar da modéstia revelada ontem ao rejeitar esse papel, uma semana antes não foi tão taxativo.
Em declarações ao Politico, Moscovici admitiu que ficaria feliz em fazer o trabalho. “Ficaria honrado, satisfeito, etc. para estar nessa função, preparei-me para isso”, disse, apesar de reconhecer que a UE ainda está longe de dar esse passo.
Artigo publicado na edição digital do Jornal Económico. Assine aqui para ter acesso aos nossos conteúdos em primeira mão.